A (des)informação

Quando um projecto web2.0 surge, e parte de utilizadores individuais e anónimos para que sejam eles os próprios agentes de produção de informação, obviamente nas áreas em que para tal se sentem mais à vontade, todos estranham e se inquirem como poderão os autores do projecto ter a ilusão que tal alguma vez resultará ou, impossibilidade absoluta, vir ainda a ser creditado como fonte de informação crível. Foram estas e muitas outras as incertezas que infernizaram, decerto, o começo de um dos primeiros, e agora mais bem- sucedidos, projectos da web.

Quase impossível era a tarefa, mas como não seria de esperar, os anónimos do mundo têm uma palavra a dizer, e tal como muitos outros projectos sociais que agora afloram por essa net fora e chateiam por não surpreenderem, a informação que antes seria repugnante ler, não estivéssemos a tomar como certa uma barbaridade escrita por alguém da Cochichina, vira um dos mais importantes projectos da web, considerado agora fonte de informação quase tão crível como muitas das melhores enciclopédias do mercado, livremente fornecendo o que outrora muito se pagava para adquirir.

Nesta altura, a do sucesso, alguma reflexão é necessária. Alguém ainda se lembra quando torcia o nariz à credibilidade da informação online? Para onde foram os argumentos que sustentavam que nada ultrapassaria uma boa enciclopédia de centenas ou milhares de euros? Quem ainda se lembra que afinal, e se nos bem entender, uma página da tal enciclopédia que tem agora razão indiscutível no que diz, poderá muito bem ser editada a nosso proveito? Não é isso que o projecto pede e incentiva? A parte da credibilidade foi o grande problema no começo, mas é preciso manter em mente que esse problema não se ultrapassa, é constante. Cabe-nos a nós não tomarmos como certo o que pode estar intencionalmente errado. Atitudes deploráveis, é certo, de quem tira proveito de tal instância benévola para enganar tudo e todos, ou suplantar novas verdades, mas não me cabe a mim discutir agora esses assuntos.

Deploráveis são também as atitudes daqueles que, tendo acesso livre a informação, deixam de usar o lobo cerebral que produziria um trabalho genuíno, e que acima de tudo revelaria bom-senso, decidindo apresentar como deles informação que não é. Digamos que fica bem, claro… mas não por muito tempo.

Miguel Pais