Como fazer uma montanha andar?

O Departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (DCC-FCUP) recebeu, a 29 de Maio, a final das Olimpíadas Nacionais de Informática (ONI). Realizadas em Portugal desde 1989, são a mais representativa competição para alunos do secundário e é nesta final que se inicia tipicamente o processo de selecção da delegação portuguesa para as Olimpíadas Internacionais de Informática (IOI), a realizar em Agosto. Nos últimos anos, seguiu-se às ONI um estágio para os alunos seleccionados, de forma a prepará-los para o nível competitivo que encontram nas IOI e concluir a selecção dos alunos, escolhendo-se os quatro melhores para a prova internacional.

Este ano, a prova foi organizada sob circunstâncias excepcionais. A Caixa Geral de Depósitos, principal patrocinador em edições anteriores, retirou-se. Seguiu-se então a procura de novos apoios, mas apesar do esforço por parte da organização, os patrocinadores encontrados não devem substituir a ajuda financeira com que a Caixa Geral de Depósitos contribuía, o que conduz à situação actual. A redução dos recursos fez já uma grande vítima – não haverá estágio para os seleccionados, pelo menos nos moldes habituais – mas ameaça também a prova internacional, existindo a possibilidade de Portugal não poder apresentar nas IOI a totalidade dos concorrentes seleccionados.

Torna-se, desta vez, ainda mais difícil conseguir os tão ansiados resultados, ainda para mais competindo contra concorrentes com anos de preparação. É certo que os tempos são de crise e a decisão da Caixa Geral de Depósitos não pode ser condenada; sabe-se também que a informática não é um dos mais privilegiados sectores na educação e as ONI ainda são tidas por muitos em menor consideração que as mais nobres Olimpíadas da Matemática e, eventualmente, da Física. É definitivamente condenável, no entanto, que se tenha atingido uma situação destas, ao ponto de estar em risco a participação nas IOI de alguns dos alunos apurados e de não se assegurarem condições minimamente competitivas de preparação para o nível internacional. Alguma empresa irá, no futuro, absorver cada um destes jovens programadores e, de certa forma, beneficiar da sua experiência nesta vertente. Porque não investir então na sua preparação, porque não suportar a escalada dos concorrentes portugueses rumo às tão longínquas mas tão atingíveis medalhas nas IOI?

Em primeiro lugar, há que melhorar a visibilidade dada aos patrocinadores. Ter um grande logótipo no site, nas t-shirts e no local da final não é, na verdade, um grande retorno publicitário para um bom patrocínio, pelo que apoiar o evento não se revela claramente vantajoso para as empresas. O actual palmarés português nas IOI também não melhora a situação, o que nos traz a inevitável relação recursos-resultados. A falta de resultados pode diminuir os apoios, principalmente a nível financeiro, mas a falta de apoios impede uma boa preparação e limita os desempenhos dos concorrentes, acabando por amputar as suas ambições. É perfeitamente previsível que um bom investimento inicial abriria caminho a uma série de bons resultados, e essa série de bons resultados traria definitivamente mais visibilidade aos patrocinadores, principalmente através da comunicação social. O que falta é só esse mesmo investimento. E enquanto não houver alguém capaz de o perceber, enquanto a vontade de obter resultados por parte dos concorrentes e o nível de preparação a que são sujeitos se mantiverem tão distantes, igualmente distantes continuarão os resultados. Não só nas IOI, não só nas competições; tudo isto se aplica na construção de um futuro e de uma sociedade capaz de ambicionar sempre o próximo passo. Por esse futuro esperamos.

Pedro Abreu