Revista PROGRAMAR (RP): Fale-nos um pouco de si e do seu percurso na tecnologia.
Nuno Garcia (NG): O primeiro computador em que mexi (e foi mesmo só mexer, porque a disquete com o sistema operativo CP/M só apareceu na semana seguinte) era português, o ENER 1000. Baseado no microprocessador Intel 8088, tinha uma consola com teclado e ecrã e um botão de reset tão saliente e sensível que às vezes alguém passava e desligava-o. Isto foi no então Instituto Universitário da Beira Interior, em 1983. Nesse Natal ganhei um Texas Instruments TI-99/4A, uma máquina fabulosa que rivalizava (para melhor, claro), com os Spectrums dos meus amigos. A partir daí não parei, até porque descobri que tinha jeito para a programação. Nessa altura aprendíamos BASIC (com um colega fizemos um processador de texto para o IBM System/34 do IUBI, e com o GWBASIC fizemos um processador de texto para um micro da Olivetti, e aquilo era muito entusiasmante, porque estávamos a fazer coisas que as pessoas precisavam e usavam e não existiam. Deve ter sido mais ou menos nessa altura que comprei, a meias com esse colega, a minha primeira disquete de 5” 1/4, e que ficava comigo semana-sim, semana-não. Depois passei pelo FORTRAN (IV e 77), Turbo Pascal, C, C++, Java, MatLab, Python e outras que aprendi e felizmente já me esqueci. Com Turbo Pascal aprendi muito e mais ou menos nessa altura, fiz a minha primeira empresa, que trabalhou de 1989 até 2004. Era uma software house e alguns dos programas que fiz na altura ainda trabalham hoje. Em 2004 mudei-me para a Siemens (Alfragide), com uma bolsa de investigação para fazer doutoramento na área das redes ópticas, e sem dúvida nenhuma posso dizer que no mundo inteiro, quiça até em Portugal sou dos cientistas mais habilitados a falar sobre Comutação Óptica de Agregados de Pacotes em IPv4 e IPv6… Esta foi uma área à qual dediquei muitos anos de investigação, mas que depois nunca teve sucesso do ponto de vista empresarial. No entanto, algumas das coisas que inventei (e que foram patenteadas) com colegas na Siemens (depois Siemens Communications e mais tarde Nokia Siemens), ainda têm aplicação e utilidade, embora noutras áreas. Uma dessas áreas levou-me a mudar de ramo e em 2008 mudei para a PLUX, uma empresa que tinha sede no ParkUrbis, na Covilhã, e que se dedica a fazer equipamentos e soluções de recolha e processamento de biosinais (ECG, EEG, entre outros). Só em 2012 me mudei para a UBI, depois de ter ganho um concurso internacional para Professor Auxiliar. Pelo meio ficaram passagens muito boas pela Universidade Autónoma de Lisboa e pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, sendo que ainda colaboro com esta última de forma regular.
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