Entrevista a Vânia Gonçalves

Vânia GonçalvesRevista PROGRAMAR (RP): Fale-me um pouco de si e do seu percurso na área das tecnologias.

Vânia Gonçalves (VG): Sou licenciada em Eng. Informática e Computação pela FEUP e antes da conclusão do curso comecei a trabalhar nas áreas de desenvolvimento de software e segurança e gestão de redes. Mais tarde concluí um Mestrado em Políticas Tecnológicas pela Universidade de Cambridge e desde então tenho-me focado mais na investigação da gestão de inovação tecnológica, políticas e modelos de negócio associados. Atualmente sou docente convidada do Departamento de Engenharia Informática da FEUP e coordenadora de projetos de Investigação e Desenvolvimento na NMusic.

RP: Como surgiu a comunidade Portugal Girl Geek Dinners e qual a sua missão?

VG: Conhecia os eventos Girl Geek Dinners em Bruxelas, sempre esgotados e com mais de 80–100 mulheres a participar. Na altura não havia nenhuma comunidade ou eventos semelhantes em Portugal, que unissem mulheres e o gosto por tecnologia. Comecei por organizar os eventos cá, enquanto ainda vivia em Bruxelas e às vezes era difícil motivar mulheres a participarem. A missão da comunidade Portugal Girl Geek Dinners é encorajar e inspirar jovens mulheres a seguirem uma carreira na área da tecnologia e potenciar a partilha de histórias, troca de experiências, e relações em rede entre mulheres com carreiras na área tecnológica.

RP: Quais as dificuldades mais difíceis de contornar para tornar os encontros possíveis?

VG: A disponibilidade de tempo para manter os encontros e motivar as voluntárias que organizam os encontros em várias cidades. É normal as pessoas terem alterações na sua vida profissional e privada e deixam de estar disponíveis. Por isso, é necessário garantir frequentemente que temos pessoas motivadas e a contribuir voluntariamente para esta comunidade.

RP: O primeiro encontro surgiu em Dezembro de 2009 em Coimbra. O que mudou desde então?

VG: Muito mudou! Desbravou-se muito caminho! Temos cada vez mais mulheres a participar nos encontros e, acima de tudo, mais conscientes para as vantagens de participar neste tipo de comunidades e evento e do contributo tanto para o seu desenvolvimento pessoal como profissional. Entretanto, também há agora uma grande escolha de comunidades na área tecnológica e focadas no networking, e também exclusivamente para mulheres. Tudo pode coexistir e o importante é que as pessoas se envolvam e tirem o maior partido disso.

RP: Que preciso fazer para envolver-me com a comunidade PGGD?

VG: Participar num dos nossos encontros o mais depressa possível! :) Há também a possibilidade de nos seguir nas redes sociais Facebook, LinkedIn e Twitter. Mas é mesmo na mailing list e na equipa do Slack que as mulheres do nosso grupo comunicam mais.

RP: Em que cidades estão presentes núcleos PGGD? E se uma cidade não tiver núcleo, o que precisam de fazer para passar a ter?

VG: Neste momento há encontros, com mais ou menos regularidade, no Porto, Lisboa, Coimbra, Leiria e vamos tentar regressar a Braga depois do Verão. Para começar em novas cidades é necessário reunir um grupo de 2 a 3 voluntárias e propor a existência de um novo grupo explicando a principal motivação. Por exemplo, em cidades com universidades que oferecem cursos na área tecnológica ou cidades com pólos empresariais com empresas tecnológicas haverá certamente mulheres na área tecnológica. É essas (jovens) mulheres que queremos que comecem a falar entre si e a trocar experiências.

RP: O que é que distingue o vosso movimento de outros encontros similares?

VG: Penso que neste momento, e talvez por ter sido o primeiro, é o movimento que reúne mais mulheres apaixonadas por tecnologia em várias cidades espalhadas pelo país. A nossa mailing list reúne quase 300 mulheres e há uma comunicação constante e um espírito de entre ajuda que não conheço noutras comunidades. As relações que se têm criado nos encontros têm facilitado muitas mulheres a encontrarem novas oportunidades de emprego e a sentirem-se mais confiantes no trabalho.

RP: Em que medida o PGGD contribui para o presente e futuro dos profissionais e apaixonados das TI?

VG: O PGGD contribui essencialmente para criar uma vasta rede de mulheres interessadas em tecnologia e dar-lhes as condições para estabelecerem contactos com outras mulheres e empresas de forma a trazer-lhes mais-valias profissionais. Nos nossos encontros, tentamos sempre abordar temas tecnológicos de vanguarda para enriquecer o conhecimento e fomentar o posterior estudo individual do tema.