Expressa-te!

Sem dúvida que nos últimos tempos têm-se falado bastante na liberdade de expressão, como os casos de divulgação de documentos por parte do Wikileaks, as “milenares” censuras na China no uso da Internet (agora até estão censuradas pesquisas sobre o actual estado do Egipto), a tentativa de obter os dados de acesso às contas do Facebook dos tunisinos por parte do próprio governo, para limitar a troca e partilha de informações, e ainda mais recentemente o corte dos serviços de internet no Egipto aplicado a toda a população, para que esta não possa comunicar sobre a situação actual do país (entretanto, e pelo menos parcialmente o corte foi cancelado), o caso da Ensitel que queria obrigar uma cliente a retirar a informação sobre as reclamações que tinha feito para a empresa, entre muitos outros que poderia enumerar.

Na realidade ao longo dos séculos a denominada censura sempre existiu, mesmo em países designados como altamente evoluídos. Porque se me apetecer colocar online dados de outra pessoa sem a sua autorização não o posso fazer, e que é isso senão uma forma de censura? No entanto essa censura parece razoável porque o seu intuito é proteger os cidadãos. A grande questão é, até que ponto pode ir essa censura? No caso do Wikileaks essa é uma questão com muitas pontas. Afinal, grande parte da informação revelada lá é considerada sigilosa nos países onde foi obtida, nomeadamente os EUA. Na verdade a proibição de reproduzir informação sem autorização considerada secreta, nada mais é que censura. Mas aqui parece mais difícil avaliar se esta censura é a favor dos cidadãos ou contra eles. E aí as opiniões e os argumentos dividem-se.

Com a evolução, aquilo que muitos denominam de Web 2.0 fez muitas pessoas descobrirem que o que dizem ou fazem pode ter repercussões em todo mundo, gerando ondas de solidariedade ou aversão, mas abanando as estruturas da sociedade. O facto de cada um de nós poder ser também um meio de informação (ou por vezes desinformação) traz enormes responsabilidades. Quando foi lançada a suspeita que a licenciatura do Engo Sócrates tinha sido tirada ao Domingo, a página da Wikipédia referente à sua pessoa foi bloqueada por edições abusivas. A verdade é que com este poder muitos caem na tentação de apresentar as suas opiniões como se fossem factos consumados, e isso gera o famoso “diz que disse”.

António Silva

Publicado na edição 27 (PDF) da Revista PROGRAMAR.