Revista Programar 2.0?

Vivemos cada vez mais a web 2.0, fenómeno social que tem trazido a inúmeros seres humanos a possibilidade de, acima de tudo, participar, colaborar, ter voz activa à escala global defronte de uma assistência inalcançável no mais lotado auditório da suposta vida real. Tendo em conta este facto algo de curioso se constata, não é a revista programar um projecto que tem por alicerces a partilha e a cooperação, tudo em prol do utilizador anónimo que se interessa pela programação, feito por aqueles que da sua experiência gostam de oferecer uma parte? Será a revista programar um projecto 2.0? O que lhe falta para o ser, o que impede mais utilizadores de colaborarem?

Embora o projecto em essência seja 2.0, aquilo que poderá trazer mais utilizadores a participar tem muito a ver com determinados factores que qualquer projecto Web 2.0 tenta garantir, entre os quais: motivação, usabilidade, público alvo. Estaremos nós a caminhar para a revista programar 2.0? Aproveito para analisar a perspectiva da revista quanto a alguns destes factores. Motivação: para que uma revista funcione não é necessário que seja  entregue uma medalha a cada elemento que nela decidiu participar, mas tendo em consideração uma equipa mutável em que cada elemento porventura prescindiu de muito para produzir o artigo final em questão, é necessário algum tipo de recompensa, geralmente não mais que imaterial, mas necessária. Uma das grandes tarefas de uma revista, e de outro género de projecto, passa por tentar criar, para o próprio projecto, prestígio e relevância suficientes perante uma comunidade externa onde os colaboradores se insiram, de modo a que o acto de participar em tal projecto os faça sentirem-se orgulhosos. No entanto, tudo depende de como é exposto o autor do artigo na revista, uma simples referência nos confins de uma ficha técnica poderá não ser o melhor método. Neste aspecto temos tentado melhorar, será que isso ainda nos impede de ganhar mais utilizadores?

Usabilidade: aquele que é, sem dúvida, um dos conceitos mais importantes de qualquer projecto de programação, adquire na revista um significado um pouco diferente. Não se trata propriamente da curva de aprendizagem que um novo utilizador terá para conseguir lidar com as tarefas que o nosso programa resolve, mas sim a facilidade com que novos utilizadores podem integrar a equipa de redacção e desde logo começar a produzir, bem como os meios técnicos sobre os quais toda a revista é desenvolvida. Este é sem dúvida o ponto onde a revista programar mais precisa de melhorar, o que tentaremos a longo prazo.

Público Alvo: há que ter sempre cuidado com o nível de complexidade que um projecto social acarreta, algo muito específico poderá limitar o número de utilizadores que nele podem participar, o que, embora produza conteúdo de qualidade, não será adequado se este escassear. Neste aspecto penso que qualquer um, ainda que com o mais vazio dos currículos, poderá encontrar pensando um pouco, algo dentro de si que sabe fazer e faz bem, com qualidade, podendo assim ensinar a outros.

No fundo estes três pontos levam avante, ou pelo menos não fazem submergir, um projecto social. Esta revista está longe de submergir, mas poderia ter já descolado. Se há algo que isso está a impedir, se é por culpa nossa ou da comunidade subjacente, algo terá de ser mudado, e será mudado. A Revista Programar já é um direito de todos aqueles que falam português.

Miguel Pais